' '' Os discursos da sociedade e o papel do professor diante do aluno apontado como diferente, estranho e/ou esquisito. | Revista Rondoniense de Pedagogia

06/04/2015

Os discursos da sociedade e o papel do professor diante do aluno apontado como diferente, estranho e/ou esquisito.


Por Valdineia Barreto¹

Os discursos das pessoas acabam se tornando um saber, uma informação ou mesmo um padrão, ou seja, o que as pessoas dizem muitas vezes se torna um conhecimento que é muito difícil de ser mudado. Algo muito comum são discursos a partir de hierarquias, ou seja, sempre alguém é beneficiado, um exemplo é quando as pessoas afirmam que a mulher é o sexo frágil ou que diante de algumas situações de pressão ou adrenalina agem diferente dos homens. Será mesmo?
É normal que as pessoas assumam alguns discursos mesmo sendo falsos, improváveis ou que não faça sentido algum e o reproduzam de pessoa para pessoa, isso acontece com os educadores, porque deve haver filas de meninas e meninos? Quem disse que o rosa é de menina e o azul de menino? Será que se um menino usar rosa será homossexual quando crescer? Uma cor não tem tanto poder a ponto de mudar a identidade sexual de uma pessoa.
Até que ponto podemos permitir que esses discursos caminhem lado a lado de nossa prática em sala de aula? Ou até que ponto esses discursos podem interferir ou não no currículo escolar?
Os discursos fazem com que as pessoas sejam apontadas, rotuladas ou estereotipadas como “alguém diferente”. Mas porque existe o “diferente”? O diferente existe porque do outro está o central. Existem pessoas que fazem parte de um grupo social central e outras pessoas que fazem parte de um grupo social diferente. As pessoas assumem identidades, de um lado está a identidade central e do outro a identidade que não é central, portanto, diferente.
 Segundo a sociedade quem faz parte dessa identidade central são as pessoas brancas e heterossexuais, então quem é homossexual, negro, indígena é diferente. Um homem que se relaciona com mulheres é alguém normal de acordo com os discursos da sociedade e um homem que se relaciona com homens é alguém diferente segundo os discursos.
Quantas vezes não ouvimos o discurso de pessoas ao saber que uma pessoa se relaciona com homem/homem ou mulher/mulher? Um exemplo de discurso: “Ele é gay, ela é sapatona, esse mundo está perdido”.  Quantas vezes as pessoas dizem que uma mulher é sapatona porque ainda não se casou e teve filhos? Segundo o discurso da sociedade e segundo a cultura de alguns países, o normal é se casar e ter filhos. Mas quem disse que tem que ser assim? Se uma mulher ou homem não opta por casamento e filhos não significa que sua identidade sexual deva ser questionada.
Os discursos criam diferenças, pessoas são marcadas como diferentes, e onde isso começa? Primeiramente na família e depois na escola porque é o primeiro ambiente de convívio maior que as crianças têm. Lembram do discurso: “a escola é nossa segunda casa?” Nós educadores precisamos refletir sobre como o currículo alimenta esses discursos, para ver como nossa prática é influenciada por esses discursos.
As pessoas que possuem identidade diferente acabam fortalecendo a identidade central, afinal o branco e heterossexual não seria central não houvesse pessoas diferentes.
Os discursos sobre essa identidade não está apenas na casa do vizinho, está na escola, na televisão, nas revistas, no cinema, nas campanhas de saúde, nos tribunais.
Por exemplo: no cinema o vilão ou o bandido, no caso do cinema brasileiro, o favelado é negro. Não existem bandidos brancos? Nas campanhas de saúde vemos uma família com pai e mãe brancos, mas muitas vezes as famílias possuem uma formação diferente, existem crianças que vivem com os avós, com os tios, são criados por um casal homossexual, ou nem sempre são brancos ou loiros como mostram as propagandas da mídia em geral. As propagandas de cueca e calcinhas são feitos por modelos sarados e nem todo o publico que irá usar esses produtos vestem tamanho “P” ou “M”.
Diante de alguns discursos as pessoas às vezes fingem não se importar, fingem tolerar, ou seja, preferem manter uma posição ingênua, mas não tem a mínina ingenuidade, geralmente as pessoas estão carregadas de preconceitos e fingem se manter na neutralidade, mas é apenas aparência.
 Até que ponto as pessoas se mantém neutras? Quando alguma situação envolve alguém próximo, família, amigos, o discurso muda, é sempre mais fácil manter a pose quanto ao que acontece com o filho do vizinho.
Como pedagogo, qual o nosso papel? Nosso papel é respeitar os que possuem identidade central e os que possuem identidade diferente, é tolerar e não tratar os alunos como se ser diferente fosse errado ou não tivessem direito de ser como são.
Se não existisse um padrão não existiriam tantas comparações. Como pedagogos, temos que saber como tratar aquele aluno que é apontado pelos discursos da sociedade como diferente, como estranho, como esquisito.

A cultura deve ser respeitada, como mostra o RCNEI e as Diretrizes Curriculares que garantem princípios de igualdade, valorização da cultura de cada um, o respeito a identidade, a expressão. O currículo escolar precisa estar atento as identidades de gênero e de sexo e esse é o papel do professor, o papel de aceitar esses alunos que, sem culpa são separados do que é aceitável, do que é comum, do que é central.


COELHO, Valdineia Barreto. Os discursos da sociedade e o papel do professor diante do aluno apontado como diferente, estranho e/ou esquisito. Porto Velho: Universo Pedagogia, 2014. Disponível em: http://www.universopedagogia.com/2014/09/os-discursos-da-sociedade-e-o-papel-do.html

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